E a Wizards anunciou o próximo D&D

Tudo começou em novembro do ano passado, quando Monte Cook voltou à Wizards of the Coast para escrever a coluna Legends & Lore. 
Os rumores começaram a fervilhar sobre uma nova edição do RPG mais famoso do mundo. Margaret Weiss, criadora do Dragonlance, largou um “os amigos do Monte disseram que ele está trabalhando na 5E”. 
Então, quando hoje pela manhã os blogs gringos especializados começaram a dizer que no NY Times publicaria algo sobre D&D, não foi surpresa nenhuma quando o jornal revelou (leia aqui, e a tradução aqui) e a Wizards confirmou: uma nova edição de D&D! As redes sociais (que já estavam agitadas) bombaram completamente. 
De gente desacreditada com uma nova edição em tão pouco tempo (afinal, a 4E foi lançada em 2008) a haters usando de trollagens de oportunidades, D&D prova mais uma vez ser crucial para o aquecimento do mercado do RPG.

D&D sempre foi, sobretudo nos Estados Unidos, sinônimo de RPG. Já teve desenho animado (um dos melhores da história, desculpaí) e fez muita gente ter lembranças de mundos fantásticos regados a Coca-Cola e salgados guardadas com muito carinho – me inclua aí -, fazendo muita grana ao longo desses trinta e tantos anos.

Quer dizer, sem considerar as besteiras da TSR, a empresa que levava o jogo até os anos 90, quando à beira da falência foi comprada pela Wizards of the Coast, dona do cardgame Magic: The Gathering. Mas nada conseguiu derrubar o D&D de seu pedestal como principal RPG e marca mais rentável do gênero.

A partir de 2000, quando a terceira edição foi lançada para atualizar o jogo e renovar os públicos, muitos amantes de AD&D a chamaram de videogame de papel, comparando com jogos como Diablo II, que fazia sucesso na época. Mesmo assim cresceu muito, lançou a revolucionária licença OGL, e em oito anos se desgastou, dando o passo natural de uma nova versão.

Já dona da Wizards, a Hasbro via um declínio de vendas desde 2005 (lento mas ainda assim um declínio), e uma empresa gigante precisa de grana, logo era hora de rever os conceitos básicos do jogo.

Os designers então mudaram muita coisa e criaram regras mais equilibradas, modulares e enxutas. Eliminaram várias vacas sagradas do sistema, retiraram vícios (como a magia vanciana) e alteraram o visual e vários aspectos da parte mais lúdica de D&D, como a adição de algumas raças, exclusão de classes do básico e um cenário básico genérico, com a intenção de lançar uma experiência atrativa a públicos de MMORPG e games de fantasia (já que estes se inspiraram em D&D, nada mais justo), e de modo geral mais dinâmica, fantástica e vivaz. 
Rompendo um pouco, assim, o vínculo com os jogos clássicos de fantasia, tanto no visual, quanto no modo de jogar. (Não me cabe discutir o mérito disso, uma vez que eu sempre achei que era isso mesmo que os jogadores gringos queriam. O jeito deles de jogar D&D sempre foi diferente do jeito brasileiro, e certamente do meu.)
O fato é que a 4E já nasceu polêmica. A Wizards suscitou a maior edition war que eu já vi, com muitos jogadores repudiando o sistema ou a sua nova licença de publicação, chamada GSL, que limitava muito as outras editoras (da OGL surgiram vários jogos originais, alguns tão ou mais interessantes que o D&D), e outros defendendo com unhas e dentes a revolucionária edição. 
Quando a Paizo lançou o Pathfinder, sua versão do D&D 3.5, foi com um playtest aberto, e tirou muitos jogadores do D&D. A Wizards começou a demitir vários de seus designers (cortes de custos ou diferenças criativas, não sei dizer) e, em menos de 4 anos, lançou uma linha para iniciantes que acabou tendo uma versão alternativa de várias regras do sistema (adotada por vários jogadores da 4E). 
Assim, depois da Paizo lançar também o seu box de iniciantes, Mike Mearls finalmente admitiu que muitos jogadores estavam descontentes e/ou brigando e isto não era bom para o D&D.
Assim, a Wizards está anunciando a nova edição para 2013, com um playtest aberto onde os fãs podem ajudar a moldar o futuro do jogo. Eles vão ouvir todos os feedbacks dados por eles, buscando uma experiência que leve a essência fundamental de D&D a cada mesa, não importando as diferenças de estilo das campanhas, sendo tão simples ou complexo quanto quiser, com a ação focada no combate, intriga ou exploração. U
m D&D mais customizável e aberto para o que você quiser fazer dele, deixando de lado a exultação à mecânica e permitindo muito mais improvisação e criação por parte do DM e dos jogadores. Muitos estão criticando essa postura, mas eu pessoalmente acho uma ótima estratégia. 
Tá, não dá pra agradar todo mundo, mas é possível sim pesquisar e descobrir uma forma de abranger um público cada vez maior, dando o que a maioria quer. Se souber fazer, tem como ficar massa.
É inegável que D&D é uma marca poderosa, do contrário a Hasbro já teria descontinuado – oras, a Redbox nem existiria, não fosse a 4E! (#Trollface) Mais importante ainda é para o segmento, e uma notícia sobre a franquia sempre tem impacto sobre o resto do mercado. Podemos dizer que um possível fôlego extra é, então uma ótima notícia!
E o impacto disso no Brasil? A Devir tinha acabado de anunciar o Essentials em português, e duvido muito que consiga manter o ritmo de livros da 4E e se alinhar com a Wizards até a vinda da 5E (afinal, foram muito menos lançamentos lá fora que na época da terceira edição), já que lançaram quase nada de D&D em 2011. 
A blogosfera de RPG brasileira deve voltar a se mexer ao longo desse ano, afinal o lançamento da 4E culminou em um boom de blogs (é só comparar antes e depois de 2008), e quem sabe não teremos mais iniciativas de blogs. É material sendo produzido a todo vapor! 
Nós não temos planos de revisões ou atualizações do Old Dragon (ao menos não em um futuro próximo), mas quem sabe não surgem descontentes com a 5E e não lançam um New Dragon! Ops, já me disseram que existe um.
Eu pessoalmente fiquei animado com a notícia. Me decepcionei bonito com a 4E, e sou um dos jogadores que prefere regras leves e elásticas para permitir a improvisação, além de não ter problema nenhum com guerreiros que só atacam e regras desequilibradas. Mas, como eu disse, eu sou um tipo de público que a 4E não abrangia. Sempre achei que o problema era eu, mas parece que não é bem assim, certo?
Edit: vejam aqui a notícia no Forbes, onde David Ewalt diz que já jogou uma aventura preliminar, e curtiu muito os novos caminhos!

5 comentários em “E a Wizards anunciou o próximo D&D

  1. Bela postagem Dan. Também falei umas coisinhas sobre todo esse hype no blog. Espero que criem um sistema legal com o espírito de AD&D ( a mais adorada das edições), que seja algo bem leve e modular. Que traga novos fãs e etc.

    Se bem que concordo com o Alan Moore quando ele diz que o mercado de quadrinhos começou a afundar quando começaram a ouvir demais os fãs. A WotC pode fazer besteira se ouví-los demais.

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  2. É vamos ver no que vai dar, gostei da 4ed. e por mim ela duraria mais alguns anos, sinceramente foi uma facada saber que brevemente teremos outra edição, mas se esta for de fato o paraíso que estão prometendo que venha e dure

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  3. Cara, vi uma opinião de alguém que não lembro quem foi, dizendo uma coisa que concordei veementemente. Dungeons & Dragon se tornou um conceito que transcende a marca. Old Dragon é D&D, assim como Pathfinder, Labyrinth Lord, Mighty Blade, dentre vários outros. O que vale realmente é o conceito por trás do sistema.

    Por isso, dificilmente largarei o Old Dragon para comprar mais uma penca de livros novos. Quando o sistema já me supre, e o que ele não tem, eu invento facilmente.

    Mas espero que seja algo mais próximo ao RPG do que ao MMO. Seria muito bom ver o Dungeons & Dragons de novo com sua essência perdida desde meados da edição 3.5

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