O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

Numa toca no chão vivia um hobbit.
Desde moleque eu era doido para ver um filme d’O Senhor dos Anéis, os livros que me levaram ao amor pela fantasia medieval (e ao D&D, logicamente). Me lembro de sair do cinema há dez anos extremamente empolgado ao ver Gandalf, Aragorn e Legolas distribuindo tapas em orcs e goblins. Mais ou menos nessa época, peguei um O Hobbit emprestado e li em três dias, e sempre admiti que gosto mais desse livrinho escrito por Tolkien para seus filhos do que dos grandes tomos da maior história da Terramédia. E, a partir deste ano, o sonho de ver esta maravilhosa história no cinema está se realizando.
Para quem não sabe (morra), O Hobbit é um livro excelente como introdução à Terramédia. Sessenta e um anos antes de Frodo levar o Anel do Poder para Mordor, conhecemos a história de Bilbo Bolseiro em seus dias jovens, que em um belo dia teve sua pacata vida virada ao avesso pelo mago Gandalf e uma companhia de treze anões liderada por Thorin Escudo de Carvalho. Eles o levaram à maior aventura da sua vida, uma missão para recuperar a montanha dos anões das mãos do maléfico e poderoso dragão Smaug. Nessa jornada, Bilbo conhece Gollum e encontra um certo anel que será muito importante para o resto da saga. É um livro leve, evocativo e bem humorado, nos apresentando a este clássico mundo de fantasia com canções empolgantes, passagens engraçadas e elementos muito divertidos.

Quando soube que o breve livro seria transformado em não apenas um, mas três filmes (Uma Jornada Inesperada, A Desolação de Smaug e Lá e de Volta Outra Vez), fiquei um pouco com o pé atrás – principalmente quando vi gente como Cate Blanchett e Elijah Wood voltando à produção. Mas In Peter Jackson We Trust, e eu saí do cinema nesta sexta-feira tão extasiado e maravilhado quanto gostaria de estar. O filme é totalmente excelente, nos apresenta muito mais da Terramédia (me arrepiava o tempo todo com os combates dos anões) e tem o ritmo certo de um ótimo filme da franquia. As adições de PJ estão longe de ser enchimento de linguiça, acabaram dando muito conteúdo à história.

O primeiro motivo para a esticada é que era necessário vender a história para um público que só conhece os filmes, sendo o link com eles necessário. PJ fez a coisa de um jeito muito bacana, nos mostrando Bilbo começando a escrever seu livro enquanto explicava a Frodo a tendência cleptomaníaca de alguns parentes que viriam para seu aniversário de 111 anos (como vimos no início de A Sociedade do Anel). Radagast O Castanho (que Gandalf menciona na outra trilogia) aparece para revelar um mal nascente nas entranhas da Floresta Negra. O Conselho Branco se reúne para decidir se vale a pena acordar o poderoso dragão, entre outras. Além disso, temos várias histórias muito bem mostradas, como a chegada retumbante de Smaug a Erebor (a montanha dos anões), destruindo tudo com fogo e nos deixando amedrontados mesmo sem mostrar NADA do dragão; a batalha onde os anões tentam retomar Moria do orc Azog (e Thorin ganha sua alcunha de forma sensacional), que é um rei descrito por Tolkien em apêndices, e aqui ganha um pouco mais de destaque como o grande vilão deste primeiro filme; uma luta apoteótica entre gigantes de pedra; a passagem fantástica na cidade dos goblins, cujo dedo de Guillermo del Toro se mostra presente. Tudo muito bem conduzido, com flashbacks na medida certa.
Muitos anões!
Todas essas alterações são feitas respeitando o cânone de Tolkien, aproveitadas de anotações do escritor, apêndices e outras passagens das histórias da Terramédia. A trama está muito bem amarrada e organizada, com um final empolgante e a ansiedade gigante para ano que vem. Fico curioso em como vão fazer nos próximos filmes, já que mostraram boa parte do livro nesse primeiro (inclusive o excelente capítulo Adivinhas no Escuro, onde Bilbo e Gollum fazem um jogo de adivinhas para o hobbit escapar da criatura). E tenho medo de um rumor que está rolando de que Legolas será professor de arco e flecha de Bard O Arqueiro…
O filme é lindo, como não poderia deixar de ser. A Nova Zelândia fornece montanhas e florestas maravilhosas, e lugares como O Condado, Valfenda e Erebor (a majestosa cidade dos anões), Valle (a cidade dos humanos que fica perto de Erebor) enchendo nossos olhos. Como eu adoro anões e suas cidades cheias de estátuas, túneis e escadarias (estou viajando nos anões de Dragon Age esses dias, e meu personagem na campanha que jogo é um anão :D), nada me deixou mais embasbacado que a montanha solitária e as batalhas dos anões. A chegada de Smaug, o Dragão, é um evento apoteótico, e duvido que alguém não tenha pulado da cadeira. Mergulhamos mais a fundo na Terramédia ao ver cidades humanas, novas regiões, os elfos fazendo caçadas e esses pormenores bacanas. A trilha sonora de Howard Shore nos traz a lembrança de O Senhor dos Anéis e adiciona uma nova base principal, da canção Misty Mountains (Cold) cantada pelos anões (que nos deixa de cabelo em pé com a interpretação grave e o clima criado dentro do filme).
Sobre os atores: não poderia haver uma escolha mais acertada para o papel de Bilbo do que Martin Freeman. Sempre gostei do ator (John Watson, da fabulosa série Sherlock, é muito legal), mas esta é sem dúvida sua melhor interpretação. Os trejeitos, caras e bocas do hobbit são transpostos para a tela do jeitinho que eu imaginava, e o ator realmente incorporou o personagem com maestria. Ian McKellen está o Gandalf soberbo de sempre, com uns pés de galinha a mais (inevitável), mas tudo certo. Ele ficou bem irritado por ter que contracenar sozinho nas cenas abertas (já que é o único personagem grande e o resto são anões e um hobbit), mas PJ o tranquilizou e diminuiu essas cenas. Os anões estão muito bem feitos, do sisudo Thorin aos galhofeiros Bifur, Bombur, Fili e Kili. Engraçado ver que para que o público não se perdesse, o diretor deu uma exagerada na aparência dos anões para diferenciá-los. Senti falta de um pouco mais de barba em Thorin (mas notei que ele estava ali para ser um galã de pôster, que deixou as meninas suspirando) e nos jovens, mas Dwalin estava top de linha. Cate Blanchett (Galadriel), Hugo Weaving (Elrond), Ian Holm (Bilbo) e Christopher Lee (Saruman) repetem seus papeis magistrais. Por fim, temos orcs, trolls, fantasmas, aranhas gigantes, goblins e wargs extremamente assustadores e inspiradores para qualquer narrador, e um Gollum muito mais realista e expressivo, mérito total do grande Andy Serkis.
Claro que o filme tem defeitos. Achei que estragaram a cena dos trolls mudando o que está no filme, que é bem legal e sutil; Azog poderia ter uma armadura legal, ainda que seja um guerreiro fodão que luta pelado para provar que não precisa de armadura. Fora isso, um defeito na verdade da legenda, que ficou toda quebrada na parte com Gollum. A Ferroada ficou parecendo um sabre de luz, bem diferente da que vemos em O Senhor dos Aneis. Ah, e um problema que as traduções das coisas de Tolkien sempre tiveram: botar goblins e orcs num balaio só. Você ouve goblin, a legenda traduz orc, desde O Senhor dos Anéis. Muitos estão apontando como defeito o fato do filme ser longo ou ter um ritmo lento, mas eu sempre vou defender que este ritmo é ótimo, cadenciado e old school, e as pessoas é que estão mal acostumadas com esses blockbusters apressadinhos de hoje.
Definitivamente, este é um filme que deixa qualquer RPGista saindo do cinema empolgado para jogar uma fantasia medieval. Paisagens maravilhosas, jornadas incríveis, combates estilosos, uma história que não chega a ser um épico mas é sensacional e o retorno às maravilhosas histórias da Terramédia!
Imagens: divulgação

7 comentários em “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

  1. Amei o filme, achei incrível. A legenda realmente ficou estranha em algumas partes mas não considero como um defeito grande demais. Não tenho do que reclamar, todas as adaptações que o PJ fez ficaram muito boas. Também queria que o Thorin tivesse uma barba mais longa, igual como descreve o livro.
    Perfeito, que venham os outros filmes!

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  2. Concordo 100% [2]

    Fiquei arrepiado do início ao fim, quase chorei de emoção quando começou o “numa toca no chão vivia um hobbit”.

    Agora o pior é esperar pelo próximo :P

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  3. Sem querer ser chato, mas os bichos nocivos em sua maioria estão na Austrália. A Nova Zelândia é bem tranqüila quanto a fauna, hehehehe, mas que dá vontade de visitá-la pelas paisagens isso dá.

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