Miniaturas, maquetes e o ponto de vista imaginário

Imagino combates abstratos assim…
No jogo de Canção Escarlate deste fim de semana (quase um TPK, não fosse o pessoal lembrar que não estava mais jogando D&D :P) decidi não usar miniaturas. Há algum tempo estava achando os combates estratégicos e chatos demais.

Desta vez foram combates com menos participantes, mas ainda assim foram mais dinâmicos e evocativos. Uma luta contra um enorme abolete, que provavelmente seria uma miniatura grande paradona no grid e rodeada de PJs (embora isto seja minha culpa).

Obviamente, não estou fazendo um protesto contra as minis (afinal eu vendo minis :P), apenas refletindo sobre o ponto de vista que temos com os apetrechos de combate ou sem eles. Já havia feito isto no antigo blog, de modo que vou reviver o assunto.

Ao ver um combate em um livro, filme ou série, me imagino como um espectador ao redor dos lutadores. No RPG, um combate narrativo me faz sentir na pele do personagem, em primeira pessoa (como no Skyrim, mas com mais controle :P), ou no mínimo como se estivesse assistindo um filme.

Quanto mais bem feitas são, miniaturas, tiles e maquetes deixam a experiência mais visual, que comprovadamente facilita o entendimento da cena e alinha a imaginação de todos os presentes na mesa. Teoricamente deveria deixar a imaginação da cena mais vivaz.

Mas eu tenho começado a perder a imaginação ao ver aqueles bonequinhos de longe, imaginando a cena como se estivesse vendo um jogo de futebol ou jogando Warcraft, com uma visão mais distanciada da coisa.

Combates sem miniaturas costumam ser mais abstratos e gerar certas confusões que as miniaturas esclarecem, especialmente quanto às posições dos combatentes e elementos de cenário. Mas como utilizam mais a imaginação, tenho sentido que os jogadores tomam atitudes mais humanizadas ao invés de só mexer um boneco na mesa e atacar. Eles são encorajados a descrever melhor seus ataques, a fazer movimentos mais livres e tudo mais.

As miniaturas organizam tudo, mas em algumas vezes têm sido mais estratégicos e menos lúdicos, passando uma ideia maior de peças de xadrez se movendo. Uma vez jogamos um combate num navio que deveria ser altamente cinematográfico, mas todos imaginavam a cena meio de cima, e isso tirou muito da graça da luta.

Lógico que isso é uma percepção do nosso estilo de jogo. Muitos jogos funcionam perfeitamente bem com esse elemento estratégico, e muitos grupos conseguem abstrair os bonequinhos e imaginar a porradaria, não importa quanto a estratégia mecânica seja pesada (D&D 4E, por exemplo).

Eu mesmo adoro o auxílio visual e a sensação de ter miniaturas parecidas com os personagens dos jogadores. Mas geralmente nós não conseguimos sair da visão áerea e encarnar os personagens no combate quando dependemos demais das miniaturas.

… e com minis, assim.

Sendo assim, acredito que vou deixar as minis para combates maiores, caprichando menos no visual das coisas (o meu grid de combate “desenhável” é o bastante) e deixando tudo menos amarrado, sem pensar muito em contar quadrados e sempre chamando a atenção dos jogadores para o que está acontecendo na conversa, e não no tabuleiro.

Assim, acredito que serão maiores as chances da gente manter o combate na imaginação e usar as miniaturas mais para posicionamento.

E vocês, sentem essas dificuldades, ou acham que é mais difícil imaginar uma peleja abstrata do que uma bem arrumadinha no tabuleiro?

32 comentários em “Miniaturas, maquetes e o ponto de vista imaginário

  1. Eu uso as minis como referência do posicionamento dos personagens, mas em boa parte do tempo elas ficam lá paradas enquanto a história anda solta. Mas claro, no caso eu jogo 3D&T, então elas são totalmente desnecessárias já de saída XDXD

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  2. Eu, como mestre, sempre procuro imaginar o combate como você visualiza com as minis. Como jogamos online e o grupo todo preferiu sem imagens ou grids, eu tento fazer esse papel mentalmente pra manter o controle de onde está cada um. Na hora da ação mesmo, com os dados já rolados e a interpretação dos golpes sendo feitos, eu tento isolar a cena em si, e imaginar ela, só os combatentes, mas logo volto para o panorama geral.

    Desse jeito, o grupo tá focado no seu combate pessoal, quando eles querem saber o andamento, posições, perguntam, e eu passo para eles como está. Dessa forma dá pra garantir a imersão deles na interpretação, e o mestre que se preocupa em explicar a quantas anda.

    Resumindo: Fico arranjando mais trabalho pra minha cabeça de mestre, mas vale a pena.

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  3. O meu grupo começou a utilizar miniaturas pelo mesmo problema que o seu Dan. Mas não existe nada como um bom combate sem miniaturas. Neste sentido temos o belo exemplo de Mutantes & Malfeitores, nele os alcances e áreas de efeito dos poderes são tão cavalares que não tem sentido utlizar miniaturas. É parecido com o que acontece com 3D&T, fica tudo mais simples. Não sei quão tático pode ficar um combate neste estilo, mas a liberdade é imensa.

    Não tenho problemas quanto a imaginação, só que as regras para um tabuleiro limitam os personagens. As vezes você quer fazer um ataque ao maior estilo Cloud VS Sephiroth (como você citou na imagem) mas as regras não permitem e aí você passa a imaginar apenas uma parte daquilo que você idealizou. Nada de super saltos, sequências de ataques seguidos de uma retirada. Isso só é possível quando o personagem tem alguns talentos do jogo, e nem todo mundo tem paciência de comprar todos os talentos necessários para poder imaginar seus combates do jeito que sempre quis.

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  4. Como eu na maioria das vezes sou o mestre, dificlmente imagino alguma coisa na primeira pessoa. Parando pra pensar, acho que nem quando estou jogando imagino as cenas em primeira pessoa.Gosto sempre de visualizar a aparência do personagem que estou interpretando, talvez seja por isso.

    Agora, com minis ou sem minis não faz muita diferença pra mim, imagino tudo igual, alternando entre variados ângulos e posições. Ajuda o fato de que tenho uma excelente capacidade de visualizar mentalmente o espaço tridimensionalmente.

    Talvez por isso que eu goste tanto de minis, porque elas não limitam em nada minha experiência de jogo.

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  5. Humm, é como se você criasse mentalmente uma cena com miniaturas pra passar a ideia geral pro pessoal, né? Mas você não se perde em nenhum momento, ou eles tem dificuldade pra entender as posições?

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  6. Respondendo ao Bob e ao Igor: pois é, minha mente não viaja tanto quando a gente só move os bonequinhos entre as casas. Enquanto lia os comentários de vocês, pensei que talvez seja uma boa eu começar a pensar de forma abstrata na hora de declarar as ações (tanto como narrador quanto como jogador) e só depois fazer a parte mecânica. Um exemplo: contar os quadrados entre mim e o oponente e depois dizer “eu me aproximo do pirata (ou se estiver narrando, digo que ele se aproxima de você) e giro (gira) a espada, tentando acertar a rótula”. Tipo, sempre usar descrições evocativas e treinar a mente pra se distanciar do tabuleiro

    Quanto à visão em si, acho que me expressei mal: eu quis dizer que o combate mais narrativo me evoca uma visão próxima, como se eu estivesse do lado dos combatentes, e o combate com minis é como se eu estivesse numa arquibancada vendo um jogo de futebol ou o UFC. =P

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  7. Cara eu já usei minis, acho elas de grande valia na hora de pensar a disposição do cenário, mas em algumas descrições de ações físicas eu e os players costumavamos encenar mesmo, literalmente levantar da cadeira tentando fazer movimentos acrobáticos em camera lenta (fica meio ridiculo de ver, mas bom de entender) para descrever como se daria acação do personagem.

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  8. Acho Minis bonitinhas…. O jogo fica organizado e há redução nas contrariedades durante a narrativa… “Mas Mestre! vc não disse que o mostro estava com cobertura!”; “Eu disse que não ia ficar na frente do grupo”… e mais…

    No entanto, não gosto muito.

    Prefiro a narrativa abstrata mesmo, no máximo usamos papel e lapis para um primeiro posicionamento dos personagens e depois deixamos fluir junto a caóticidade da batalha. Não sei, grids e minis para mim são como ver um filme antes de ler o livro… Tiram um pouco a minha liberdade em imaginar. ^^

    Beijos Dan.

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  9. Me perder é bem difícil. O pessoal as vezes chega a ficar um pouco confuso por não ver o combate, mas preferem sem miniatura mesmo. Quando acontece de ficar confuso, geralmente é culpa de alguma falha na minha descrição, que tem melhorado aos poucos.

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  10. Cara, quando começamos a jogar RPG aqui (com 3d&t), a gente nem sabia que havia a possibilidade de usar miniaturas, a gente descrevia tudo, imaginava tudo e no máximo, fazia um desenho no caso de alguém não ter entendido o que tava se passando.
    A primeira vez que eu joguei com miniaturas foi quando joguei em outro grupo, era d&d 3.5, e o narrador gostava de usar pra ter noção dos ataques de oportunidade, deslocamento e tudo mais.
    Eu não tenho nada contra usar miniaturas se elas auxiliam a mecânica do jogo (no caso das versões mais recentes de d&d), mas eu acho meio desnecessário, se o jogador quer saber se consegue chegar até um inimigo ou se ele passa pela “área de ameaça” de outro é só ele perguntar ao mestre se tem como fazer a tal ação.
    Na minha mesa não usamos miniaturas, usamos descrição e imaginação.

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  11. Interessante, Paulo. Não vou de uma hora pra outra abolir as minis dos jogos de D&D (alguns jogadores da mesa me matariam!), mas vou melhorar minhas descrições pra evocar melhor o lúdico na hora da porrada =D

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  12. Grande Dan, eu estou no meio termo, como não curto muita ilustraçao durante a partida, prefiro narrar, tentando tornar as miniaturas “marcadores taticos” e imergir no combate atravéz da descrição (isso quando narrava 4E agora sou um hippister narrativista), isso é um pouco complicado e quando um jogador não consegue imergir quebra bem a dinâmica do grupo. Optei em Old Dragon narrar sem miniaturas, e vejam só, o combate acaba sendo mais rápido e imersivo, se o narrador tomar certos cuidados para não complicar muito as coisas, a diversão é garantida.

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  13. Acho que a minis atrapalham um pouco a imersão no jogo e a imaginação. Tenho 2 histórias tristes se não fossem cômicas: 1) Um dia usei uma mini de um sapo para representar um otyugh e o jogador disse que o seu personagem iria atacar o sapo gigante!; 2) outro dia o mesmo jogador gastou um poder diário em um minion achando que ele fosse o líder do bando pq a miniatura que usei era muito mais estilosa do que a do líder verdadeiro. Mas, meu grupo já está viciado nelas.

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  14. Olha Dan, muito bom o artigo, parabéns. Eu sou adepto das duas “ferramentas”. Porque em uma batalha imaginária ou projetando pela mente podemos realizar batalhas aéreas, em escalada, mergulho. Em geral batalhas a níveis digamos tridimensionais ou até as mais absurdas como em Mutantes e Malfeitores e 3D&T.

    Mas de outro lado em sistemas mais “pés no chão” onde não tem muita variedade de plano resolve-se muito no 2D por exemplo o Old Dragon, D&D, entre outros. Mas é complicado fazer movimentações em escaladas, mergulhos entre outros, o máximo que se pode fazer é reduzir o número de passos, por exemplo: Se você passar aqui vai gastar 4 pontos de movimento! (Aff total).

    Enfim, todas são válidas, depende da aplicação. Se o seu combate tiver muita variação de terreno em termos de altura e largura, não utilize grinds. Agora se for um campo limitado onde não tem muito que andar, recomendo os grinds.

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  15. sobre miniaturas… eu particularmente curto, ta certo que nas edições antigas do D&D eu achava muito melhor jogar sem ela, mas hoje em dia com a quantidade de engenhosidade mecânica (e o que ainda ta aparecendo) acabou se tornando necessário, mas eu não vejo como algo que destrua a imaginação, pelo contrário, acho que complementa ela.

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  16. Eu entendo bem oq voce quer dizer, também tenho essa opinião e sinto que combate com minis deixa a sensação de distancia da visualização dos personagens, ou até se imagina menos eles. A muito tempo atras um jogador meu também tinha chamado minha atenção falando isso. Eu estou pensando em nessas semanas testar usar miniaturas o minimo possivel para testar no que muda.

    Ótimo post meus parabéns!

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  17. Numa conversa essa semana, surgiu um ponto interessante: as miniaturas “distanciariam” o jogador do personagem? Digo, apesar de esclarecer problemas de área, distância, ver seu personagem “materializado” na miniatura poderia tornar a ação mais distante?

    Eu ainda não tenho uma posição formada sobre isso. Acho miniaturas bonitinhas, parte de mim se diverte fazendo os bonequinhos pularem de um lado pra outro imitando barulhos estranhos (só eu faço isso? Okay… .__.), mas há momentos que a abstração parece mesmo a melhor maneira de lidar com um combate.

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  18. É esse pensamento que vem batendo na minha cabeça. Em alguns combates, minis tem causado mais prejuízo que benfeitoria. Lembra daquele na muralha? Sem minis tinha ficado muito mais emocionante, especialmente porque num tabuleiro não dá nem a pau pra ter uma ideia de hordas saídas de pesadelos subindo os muros…

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  19. Alguns sistemas, como o Carnage (do jogo Carnificna nas Masmorras), valorizam o uso das miniaturas, associando-as ao combate com narrativa abstrata. Lá você não conta quadrados, apenas muda alcances, e faz toda a narrativa quando recua ou avança em direção ao inimigo (e vice-versa). Eu considero essa aplicação das minis uma maneira perfeita entre tabuleiro e RPG.

    Nessa situação as miniaturas só incrementam o jogo.

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  20. Por aqui desde a 3.5 sempre usamos as miniaturas e com bons resultados táticos e a parte evocativa não fica atrás. pelo contrário, fica mais fácil de imaginar tudo acontecendo na cena sem falhas de interpretação (no sentido de entender a situação). E imaginar evocativamente basta apenas descrever bem a cena que isso flui sem problemas, nunca sofri de imaginar as cenas tipo FF tactics ou partida de futebol. Dá pra imaginar tudo no ângulo que quiser.

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  21. Com certeza é bem mais fácil imaginar as lutas abstratas, em miniaturas você depende delas para evitar os “mas eu tava longe!!”, “mestre, dá pra chegar até o cara e atacar?”, “como assim eu tomei ataque de oportunidade? ._.”, é um grande problema mesmo essas discussões… Teve uma vez que eu demorava mais de 5 rodadas para chegar nos meus amigos em uma guerra, por mais que eu corresse e não enfrentasse ninguém (tá bem, morri pra dois caras qualquer porque o mestre apelou, quando eu já tinha matado uns vinte e saído ileso), simplesmente sem parâmetro algum e em GURPS! Então é isso: miniaturas te dá uma base. Acredito que dá pra fazer qualquer coisa com elas (eu brincava de lego e fazia de tudo com aquelas peças!), mas também você não deve focar só nelas, chame o povo pra narração e estimule/deixe eles fazerem coisas que parecem plausíveis, mais divertidas e empolgantes, mesmo que as regras digam não. Acho que seria um mistura mesmo dos dois estilos. Jogar sem miniaturas dificilmente vai dar toda a dimensão de uma batalha que acho necessário, por mais que eu goste de sistemas simples…

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  22. Tire o tabuleiro/grid e a sensação de engessamento estrategico se perde.

    Obrigue geral a dizer o q vai fazer antes de rolar a iniciativa e nao deixe quem mudem depois, na verdade, mova todas as minis ao mesmo tempo e depois role os dados.

    Nao deixe seus jogadores pensarem de mais, uma coisa q Diogo Nogueira sempre faz quando mestra é correr com o turno, pra dar a noção da tensão do combate. O grupo fica la decidindo estrategias e ele vem e diz “bom, o monstro atacou vc enquanto estava debatendo o q fazer!”…. acho q isso funciona, tanto q meu personagem agora sempre age primeiro e pensa depois hahahaha

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  23. Ahhh e quanto a tirar o grid, é so ele viu! continue com as miniaturas, mas sem um grid elas vao dar nocoes aproximadas e nao exatas, o que ajuda a reduzir o pensamento estrategico do tipo “contar quadradinhos”

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  24. Outra coisa q uso muito eh o que chamo de “re-arranjamento do mestre” ou “organização pós-turno”

    geral agiu, todos fizeram suas rolagens e resolveram suas ações… ai eu vou la e movo as miniaturas alegando q ninguem luta parado…ai sempre tem movimento q eles nao controlam

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  25. Certa vez tentei usar miniaturas nos combates de uma campanha, nunca mais! Parecia que estava em uma partida de xadrez, não importava a descrição ficava tudo parado e sem graça. Prefiro incondicionalmente o abstrato.

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  26. Olá Daniel, aproveitando o tema…
    Meu nome é Allan Biffi e sou um grande fã e jogador de RPG e afins. Há muito tempo venho notando a carência desse tema no Brasil e, por este motivo, tenho planos de abrir uma empresa especializada em acessórios de RPG.
    Ainda estou na fase de estudo de mercado e, como eu sei que você é uma referência do tema no Brasil, gostaria de fazer algumas perguntas. Se puder me ajudar serei imensamente grato.
    • Com que idade você foi introduzido ao mundo do RPG?
    • Quem te apresentou os jogos?
    • Qual foi o primeiro jogo que você jogou?
    • Atualmente você ainda joga? Com qual frequência?
    • Qual o seu sistema favorito?
    • Quais acessórios de RPG você utilizada na hora de um jogo? (Dados, miniaturas, escudos, fichas, tabuleiros etc)
    • Dos acessórios que você utiliza, há algum que você gostaria de ter mais opções aqui no Brasil?
    Muito Obrigado

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