Inspirações históricas para o cenário de campanha

Uma das melhores coisas de inspirar seu cenário de fantasia em culturas reais é poder aproveitar fatos e personagens históricos para compor os seus. George RR Martin disse em entrevista recente que o Casamento Vermelho foi inspirado em dois episódios reais da história escocesa – The Black Dinner e o massacre de Glencoe. 
De fato, se você pesquisar eventos e personalidades históricas, vai encontrar mauitas ideias. O melhor delas é que emprestam consistência e verossimilhança às suas histórias, e te poupam de inventar toneladas de conteúdo do zero (além de dar uma sensação legal de familiaridade).
Vamos a alguns exemplos: Elizabeth Battory era uma condessa (criada na Transilvânia, por sinal) que se banhava com sangue de garotas jovens e virgens, para combater o envelhecimento da pele; não é muito difícil pensar nela como uma vilã maga, lich ou vampira doidona. Rasputin foi um místico russo com grande influência na família imperial russa, com muitos esqueletos no armário – o nobre maligno típico. A vida de São Jorge (histórica ou ficcional, com o dragão) dá um excelente background para um herói fundador ou padroeiro de um reino, assim como o militar revolucionário Bento Golçalves e os foras-da-lei estilo Lampião. Já mestrei uma aventura inspirada no acidente radiológico de Goiânia. E temos Strahd Von Barovich e metade de Ravenloft, inspirados no Drácula, que é inspirado na figura histórica de Vlad Tepes.
Mas posso dizer que esse post só saiu mesmo porque eu vi uma excelente oportunidade de criar uma história legal para o meu reino inspirado na Rússia, ao ler este artigo da Superinteressante. Trata de uma princesa que levou a vingança às últimas consequências. Como ainda não terminei de atribuir nomes para o meu cenário caseiro Drael, vou usar Yuden, da minha versão de Tormenta (que estou transformando nesse cenário). Mas pode ser alocado em Khador (Reinos de Ferro), Anderfels (Dragon Age) ou qualquer lugar vagamente parecido com a Rússia.
Era uma vez há muito tempo atrás, quando a Mãe Yuden ainda era dividida em principados, uma princesa chamada Olana. Ela e seu marido, o príncipe Egor de Skirev, viviam uma vida perfeita. No ano de 1295 Egor foi assassinado pela família Drevlan, durante uma viagem em que coletava impostos. 
Como a maioria da população a considerava ingênua, os Drevlan (que tinham interesse em estender seu reinado para uma nova área) tentaram arranjar um casamento com a viúva. Pouco tempo depois da morte de Egor, foram visitá-la para tratar do assunto. A princesa, astuta, lhes recebeu amistosamente e sugeriu que fossem de barco até a entrada do seu castelo, para poupar-lhes a caminhada. Quando chegaram aos jardins do palácio, visitantes e barcos foram despejados em enormes trincheiras e enterrados vivos. 
Pouco depois a princesa ainda recebeu em seu castelo mais alguns Drevlans interessados em discutir o matrimônio, incautos do destino fatal que os esperava. Assim que chegavam, Olana dava ordens para que fossem enviados à casa de banho, onde as portas eram imediatamente trancadas, impedindo-os de escapar quando o edifício era incendiado. 
Não satisfeita, Olana se dirigiu às terras dos Devlians, com o pretexto de fazer um funeral para seu marido. Durante a cerimônia foram servidas bebidas, e a princesa esperou os convidados ficarem ébrios para então ordenar que fossem mortos um por um. Apenas neste “funeral vermelho” Olana de Skirev assassinou cerca de 5 mil homens. 
Mas a crueldade vingativa da princesa ainda não acabara. Sua vingança foi encerrada em grande estilo: após matar milhares de pessoas ligadas à família responsável pelo assassinato de Egor, ela viajou ao redor do império de seus inimigos para arrecadar tributos. Uma cidade chamada Askraven se recusou a pagar os impostos; Olana afirmou que poderia perdoá-los se cada casa a presenteasse com um pombo, proposta aceita de bom grado pelos moradores. Naquela noite, enquanto a cidade dormia, Olana mandou que fossem amarradas brasas acesas nas patas dos animais, e que todos fossem enviados de volta às suas casas. Assim, a cidade inteira pegou fogo, e as tropas da princesa mataram ou extorquiram aqueles que tentaram escapar das chamas. 
Ao conhecer o lado vingativo de Olana, os Drevlan desistiram de qualquer possibilidade de casamento. A princesa então reinou até que seu filho Sevastion tivesse idade para assumir o trono de Skirev. Como governante, foi responsável por efetuar mudanças drásticas no sistema de arrecadação a tributos, e a primeira governante yudeniana convertida à religião do Deus da Guerra Keenn.
Um capítulo bem legal da história de um reino para mostrar – ou para se contar na hora da sessão – aos jogadores, hein? Basta um pouco de pesquisa e umas mudanças aqui e ali, e você tem conteúdo consistente e de qualidade para o seu jogo. :D

5 comentários em “Inspirações históricas para o cenário de campanha

  1. muito fera o texto Dan!
    Talvez também ficasse legal com grandes eventos, como a transferência de uma capital ou a divisão de um reino, seja por motivos políticos ou econômicos, como a divisão do Império Romano. Isso poderia causar um grande problema, desde revoltas populares (aumento de impostos, desvio de rotas de comércio, favorecimento de outras regiões)levando a uma insurreição. Até que daria, não?

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