Um ensaio sobre monstros com imunidades

Estava pensando esses dias sobre monstros com imunidades. Na época do AD&D alguns monstros, como elementais, demônios, fantasmas e múmias só podiam ser feridos por armas mágicas e às vezes nem isso.

Isso foi substituído por uma redução de dano na 3E (solução que a gente usou no Old Dragon) e quase abolido na 4E (embora alguns monstros reduzissem tipos de dano como veneno e fogo, você podia bater em tudo). Acredito que isso aconteceu que apesar de trazer um desafio em si, a imunidade fazia com que os jogadores dependessem muito de armas mágicas (alguns monstros precisavam de armas +3 ou maiores para serem atingidos!) e engrandecia ainda mais o mago. Tipo, se aparece um demônio, Constantine manda o Batman ficar na dele e vai encarar o bichão.

(além do mais, especialmente no D&D, boa parte dos jogadores gosta mesmo é de descer o cacete em tudo que encontra pela frente, e encontrar algo que eles não podem espancar acaba sendo meio anti-climático. :P)

A 5E usou um meio-termo. Alguns monstros possuem imunidade a armas comuns, outros a armas comuns e non-silvered (banhadas a prata), enquanto outros possuem resistência (só sofrem metade do dano), e assim vai. O pessoal achou que esta era mais uma razão para o jogo ser caster-edition – onde magos e clérigos mandam e guerreiros e ladrões precisam de itens mágicos para não passar vergonha -, e tudo mais.

Alguém sabe?
Como baixar a porrada nisto aqui?

Eu pessoalmente nunca tive grandes problemas com as imunidades de monstros. Nas mesas que eu jogava, a gente sempre inventava uns esquemas malucos pra lidar com monstros, e não sofríamos tanto na mão de magic users; talvez os jogadores de magos, clérigos e druidas fossem gente boa, ou a gente que era tranquilo mesmo.

Ah, e a falta dessas imunidades geraram cenas meio esquisitas no breve período que a gente tentava jogar a 4E. Em um combate, tive que ignorar as regras porque o pessoal estava achando ridículo dar porrada num elemental do ar.

Como mestre, sempre procurei dar outras opções e estimular o pessoal a usar a cabeça ao invés de tentar demolir tudo que aparece pela frente. Eu ia além – pensava nos filmes, livros, quadrinhos e games de aventura, e na série Supernatural quando ela surgiu, pra aplicar o conceito de que a maioria dos monstros mais sobrenaturais (múmias, vampiros, fantasmas) são realmente imunes à maioria das formas de dano conhecidas – incluindo magia de dano. Os jogadores precisam arrumar esquemas de matá-los, descobrir seus pontos fracos ou em última instância apenas escapar deles.

E isso não apenas em D&D. A gente jogou por muito tempo uma campanha inspirada em Supernatural, onde isso é corriqueiro. Jogamos jogos de aventura moderna (estilo Tomb Raider), space opera, horror moderno, supers… Em uma hora ou outra aparecia um inimigo aparentemente invencível. Aí, bota a mufa pra esquentar.

Reconheço que com isso, nesses anos de “carreira” já fui chamado de injusto e corta-clima mais uma vez, especialmente por jogadores que não pegavam o espírito da coisa ou estão mais acostumados com outros estilos de jogo. Mas os elogios e diversão estampada na cara dos jogadores (ao menos dos que entendiam a pegada da coisa) valeram a pena.

Porque isso pode ser o pretexto para uma aventura por si só, inclusive. Os personagens dos jogadores vão caçar um meio de derrotar aquele inimigo, podendo empreender grandes viagens (como Perseu, que precisava da cabeça da Medusa pra derrotar o Kraken) ou momentos bacaníssimos de drama. Na pior das hipóteses, pode virar uma correria maluca onde os PJs se livram do monstro de alguma forma usando o cenário. Mas o mestre precisa colaborar!

Em alguns casos o recurso está ao alcance dos personagens, mas eles precisam dar um jeito da coisa funcionar, e isso torna o combate memorável. É a velha máxima de conseguir fogo ou ácido o suficiente para matar o troll. Ou no caso de uma que aconteceu na minha campanha atual: dois dos personagens encararam uma hidra e a coisa ia mal, até que eles se esconderam em uma caverna onde ela não entrava e usaram todos os venenos que tinham guardado na campanha pra atirar lanças e flechas envenenadas na danada. Até hoje falamos disso triunfalmente.

Minha máxima é que não há limitação no RPG que não possa ser transformada em cenas bacanas. Só precisa boa vontade.

6 comentários em “Um ensaio sobre monstros com imunidades

  1. A resistência a magia que alguns monstros tem nas edições antigas ou mesmo no OD também deixam conjuradores numa pior, então também acho que é uma questão de momento, ou fica com o problema da 4E que você mencionou, tudo bate e bate em tudo.

    E como é bom ver uma nova postagem por aqui, muito bacana como de costume!

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  2. This!
    Particularmente no último parágrafo, em que você fala da hidra e como isso se tornou um triunfo que é lembrado pelo grupo. Essas coisas é que valem a pena no RPG, que são realmente memóraveis e deixam todo mundo do grupo empolgado e satisfeitos. Mais um ponto em que eu dou razão ao movimento Old School: em um sistema de poucas regras onde o DM tem que improvisar qualquer ideia maluca que os jogadores tiverem, é muito mais fácil esse tipo de cena memorável acontecer. E isso está sendo meu maior elogio a 5E: não ter aquele trambolho de regra que você precisa ignorar para permitir esse tipo de coisa.
    Excelente post! E blogue mais! :D

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  3. Puts, tanto tempo sem ver postagens sua e ai quando por acaso começo a ler tudo. kkk novamente me dando muitas ideias kkkk meus jogadores não devem gostar de vc kkkk

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