Personagens (mais ou menos) iniciantes

Lendo sobre um post que escrevi em 2014 sobre iniciar campanhas (que é bem legal, dá uma lida), lembrei de uma questão pseudo-filosófica recente minha. Teoricamente, no 1º nível (ou com pontuação inicial ou algo que o valha) personagens são, de fato, iniciantes. Jovens cheirando a talco saindo de suas casas (ou orfanatos) para ganhar o mundo.

É uma discussão comum no meio RPGista o ponto certo de início de campanhas e o papel das personagens em cada jogo, heróis vs. aventureiros e tudo mais. Mas minha ideia não é criar polêmica, calma que eu explico.

Desde sempre jogadores fazem suas pessoinhas com prelúdios (às vezes muito) detalhados, histórias de vida às vezes até com alguns feitos no currículo. Uma forasteira que veio de uma longa jornada, um bardo atrás de compilar histórias do mundo, um membro da SWAT… Iniciantes com alguma bagagem.

Talvez seja um fenômeno iniciado com Vampiro: A Máscara, onde além de seus círculos iniciais você contava com pontos de bônus para dar um background mais trabalhado à personagem. O D&D 4E assumiu que personagens de 1º nível já são heróis acima do povo. Dragon Age RPG tem um pouco disso. Savage Worlds chama os protagonistas e demais personagens importantes de cartas selvagens.

Muita gente reclama que em outras edições de D&D, nos jogos old school e no Storytelling (pra citar os que eu vi), personagens iniciantes são feitos de papel. Poucos Hit Points, estatísticas brochantes (sic) e tal. Além do suposto pouco espaço para criar antecedentes. Já um amigo meu certa vez disse que personagens iniciantes não tem história, mas criam a sua durante o jogo (bem inspirador, hein?).

Claro, os dois lados estão certos em suas preferências. A minha, eu diria, é um pouco de cada. From Zero to Hero, ou nem tanto.

Lembro que todos os jogos de Storytelling que narrei me fizeram dar XP inicial aos protagonistas por achar estranho pessoas que já tinham alguma vivência – ainda que pouca – com fichas de iniciantes. Em D&D 3E, quando tínhamos mais tempo, eu mestrava a trajetória de cada personagem desde que saiu da escola de magia, fugiu de casa ou se sagrou (e sempre ouvia reclamações da demora do grupo se juntar). Nas duas últimas campanhas que iniciei no D&D 5E, no entanto, me veio a estranheza de ter personagens já viajavam há semanas e se juntaram na primeira sessão, serem de 1º nível.

(Inclusive a gente sempre zoava que no prelúdio você é fodão, mas quando começa a jogar, enfraquece)

Assim, decidi que só começaria jogos de D&D a partir de agora ou com as personagens de background simples começando do zero suas vidas de aventureiros, ou já com todos no 3º nível, um bom patamar pra começar com alguma liberdade para os jogadores descreverem os “níveis de tutorial” (apelido carinhoso dado por nós) em seus prelúdios.

A primeira campanha onde a gente meio que fez um retcon pra isso funcionar foi a Storm Kings, que citei no post anterior (acho que vou fazer reporte aqui). Tínhamos uma qunari vinda do extremo leste em viagem com seu mestre, um elfo bardo já com alguma estrada nas costas, uma maga da igreja já formada e uma desertora templária. Estava achando muito esquisitos eles serem de 1º nível, e depois de uma conversa os deixei de 3º logo (estavam no 2º, ingame) considerando que os primeiros níveis foram conquistados em seu caminho de prelúdio até chegarem à primeira sessão.

Pode parecer uma bobagem, mas eu tenho essas frescuras de coerência por aqui, e agora estou em paz. ¯\_(ツ)_/¯

Edit: simplesmente esqueci de postar esse print (clique para ampliar) que o parça Rafael Beltrame me mostrou uma vez, onde o próprio Gary Gygax falou que é mais legal começar além do 1º nível #pas :D

12 comentários em “Personagens (mais ou menos) iniciantes

  1. Repetindo o que disse lá no Facebook.

    Uma das coisas que eu venho adotando para algumas das minhas campanhas é fazer personagens “desequilibrados”. Colocando alguns personagens mais fortes no grupo ou mesmo mais fracos.

    Recentemente, quando narrei uma mini-campanha da Bat-Família, o jogador que pegou o Asa Noturna quase chorou de emoção com o tanto de bolinha que tinha na ficha.

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    1. Eu acho uma ótima pedida, dá uma sensação muito boa de verossimilhança e heterogeneidade. Como em D&D eu dou XP diferenciado levando em conta as cenas e tal, isso acaba fazendo alguns personagens passarem de nível antes e cria esse efeito. Tendo jogadores com maturidade, fica massa.

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  2. Concordo demais hahahaha, apesar de tentar não colocar nenhum feito importante no background dos meus personagens… Por exemplo, mesmo minha qunari tendo viajado uma longa distancia eu considerei que ela basicamente serviu de escudeira do mestre nesse caminho. Enfim. Qual seria tua sugestão pra quem quer jogar com um personagem velho?Tipo 60+

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    1. Então, se for considerar nível 1, pode-se dizer que a pessoa idosa foi forçada a sair de uma vida comum e pacata por algum motivo que a levou à aventura, tipo salvar seu vilarejo, servir na guerra no lugar de filhos que morreram, sobreviver a algum trauma ou mesmo decidir mudar de vida.

      O mago do Pathfinder é assim, ele era um nobre que decidiu estudar magia mesmo sendo já um adulto maduro, e foi uma boa desculpa pra ele ser o clássico mago de cabelos e barba branca mas ser de nível baixo. Inclusive nos quadrinhos aparecem lembranças dele em que todo mundo dizia que ele não ia conseguir, etc.

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  3. Eu concordo plenamente! A primeira vez que comecei a usar isto foi no jogo World of Warcraft D20, em que todo mundo lá começava no 2° nível. Depois disso comecei a fazer isto um padrão em meus jogos. E isto funciona magistralmente para o sistema de D&D. porque se as pessoas comuns são de 1° nivel, os aventureiros (pessoas acima da media e não comuns) podem ser de 2 ou 3° nível para mostrar que ele estão acima da massa. Sem falar que as melhores aventuras são pelo 3° e 10° nível no D&D! kkkkkk
    No Sistema que criei o “Jornada RPG” (te falei sobre ele no seu post anterior), eu não uso classes ou níveis, durante a criação dos personagens eles tem direito a escolher dois “históricos” que ajudam a definir as capacidades iniciais do personagem e ajudam ao jogador criar um background coerente e interessante. Porem sem restringir para onde ele pode evoluir.
    Um Abraço! Adoro seus posts!

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  4. Saudações, Dan.

    Muito bom ler os seus posts novamente.

    Recentemente eu comecei uma campanha no cenário de The Witcher 3, mas sem o bruxão, utilizando o sistema Mythras (antigo RuneQuest 6, derivado do BRP), que tem uma saída muito interessante para isso.

    Todos os personagens são iniciantes como aventureiros. Já tem uma história como caçador, agricultor, guerreiro, mas dentro de sua guarnição e demonstrado pelos seus níveis de treinamento em perícias.

    Se você deseja fazer um personagem mais velho, receberá uma quantidade maior de pontos de bônus para gastar em suas perícias. Até o momento, só vi jogadores escolhendo personagens jovens.

    Claro que podem haver exceções e personagens jovens podem começar com uma quantidade de perícias maior, desde que justifique, aí sim, no background.

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  5. Pra quem comentou: esqueci de postar um print (editei o post) do próprio Gary Gygax dizendo que só noobs começam de nível 1, o negócio é começar mais forte :P

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  6. personagens de 1 nivel sao os caras que nunca tiveram uma aventura. se o pdj fez uma “longa viagem” pra chegar no local da aventura. ele já teve sua primeira aventura antes mesmo de o jogo começar.

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