Usei duas campanhas prontas de D&D 5E e olha no que deu

Dentre os vários acertos da 5ª edição de D&D estão as campanhas prontas. Uma mão na roda pra DMs sem tempo que muitas vezes tinham parado de mestrar e voltaram, por serem suplementos autocontidos com crônicas completas (quase todas em Forgotten Realms). Como eu já tinha campanhas em andamento quando migrei, nunca tinha usado mais que alguns poucos fragmentos desses produtos, e sempre fiquei na vontade.

Recentemente (em termos) comecei dois jogos novos, ambos porque meu grupo praticamente se esfacelou em 2016 (vida adulta sucks). Finalmente vi a oportunidade de usar as campanhas prontas, até pela falta de tempo para me dedicar a uma nova storyline. Porém, como mestro em uma versão pessoal de Dragon Age, tive que fazer algumas alterações para tudo se encaixar ao nosso gosto. Enquanto não tomo vergonha na cara e falo dessa minha versão de Thedas, vou falar um pouco sobre essas duas campanhas.

A primeira delas é a Tyranny of Dragons. Foi a primeira oficial da 5e (mas tem vários módulos na época da transição), e eu já tinha pego vários aspectos dela para um jogo antigo nosso (desde a 3E) que se passa no reino de Antiva, que já falei aqui algumas vezes. Nessa campanha antiga, os PJs são de 10º nível (em média) e estão se encaminhando para impedir a volta de uma entidade poderosa por intermédio de um mago que deseja o poder dela. Esse plot casou bem com a Rise of Tiamat, segunda parte do módulo – e eu tinha começado a usar algumas coisas dela, decidido a finalizar a campanha com o desfecho dela.

Para começar esse novo jogo, decidi usar a primeira parte do módulo, Hoard of the Dragon Queen. Como em Dragon Age muitas entidades antigas se manifestam por meio de dragões (a ideia veio do Jaws of Hakkon), decidi que Belzagor seria uma criatura dracônica, também conhecida como Tiamat, a Rainha dos Dragões. Liguei com a história de Tevinter e seus deuses-dragões, e fez muito sentido – o retorno dos lagartões ao mundo na Era do Dragão (quem quiser conhecer essa lore de DA, procure os quadrinhos The Silent Grove) motivou uma certa reanimação dessa antiga entidade adormecida.

Pensei então no Culto do Dragão ser na verdade o Culto de Belzagor, uma seita criada com a finalidade de encontrar a entidade, enterrada em algum lugar secreto, e despertá-la reunindo artefatos dedicados a ela (dei uma modificada nas máscaras da aventura). O grupo dessa nova história fazia parte da companhia mercenária Lâminas Negras e no ataque a Verdante (Greenest), resumindo, só os jogadores sobreviveram. Eles tomaram para si o nome da companhia, se juntaram a uma feiticeira pupila de um mago poderoso que começava a organizar uma resistência e passaram a agir contra os esforços da seita de juntar um Tesouro para a Rainha-Dragão (Hoard… ah, você entendeu).

À medida que o jogo rolava, eu costurava com a outra campanha. O mestre da feiticeira era colega da feiticeira da campanha antiga, que é cigana como a ladina do novo grupo. Os Falcões Trovejantes, companhia mercenária dos PJs do jogo antigo, já tinha fama moderada nessa época. Antiva é um reino de grande extensão territorial e nessa época está em guerra civil, de modo que a reação às ações do Culto são convenientemente esparsadas, criando a atmosfera perfeita para os Lâminas brilharem.

No geral fiz poucas mudanças nessa. Além das já mencionada, retirei meio-dragões, gnomos e monges, fiz as adaptações necessárias de cenário e diminuí monstros e encontros desnecessários para meu jeito de mestrar. A caravana, por exemplo, não teria como passar meses na estrada, então foram uns dez dias de viagem mesmo. Langderdrosa virou Langrian, uma guerreira humana de cabelo azul estilosíssima. Simplifiquei a hierarquia e transformei a maga em um mago metamorfo que, assim como Flemmeth, pode se transformar em dragão. Adaptei os drakes, que em DA são filhotes de dragão, mas deixei kobolds e bullywugs (DA: Inquisition inseriu um monte de bichos novos, então what the hell, posso criar uns também), embora tenha transformado os homens-lagartos que adoram lagartos, incluindo dragões. Também troquei os magos de Thay por Venatori e ficou bom.

Eu gosto da Tyranny of Dragons. É um D&D basicão legal, apesar de ser meio confusa na escrita e ter muita mecânica maluca, mas era a Kobold Press terceirizada dando os primeiros passos. A ideia era continuar com a Rise of Tiamat e fazer um desfecho apoteótico para as duas campanhas juntando os dois grupos. Era, porque esse grupo meio que esfacelou também, e marcar a campanha antiga também não está fácil. Mas esse fim de semana reativamos um jogo que parecia ter acabado em 2015, então ainda há esperança.

A segunda campanha é a mais recente, Storm’s King Thunder. Essa aqui é sensacional. Especialmente pelo background inicial meio nórdico, já que começa com Gigantes da Tempestade e tem todo um viés de intriga de corte dos gigantes e tudo mais. Essa eu apresentei a um novo grupo que formamos na internet, jogando corajosamente via texto (restrições de pais de criança pequena) com uma turma muito gente boa. Antes de eu entrar no limbo da mestragem, em abril, acabamos o primeiro capítulo do módulo, A Great Upheaval (Uma Grande Perturbação). No original, uma vila é atacada por gigantes, goblins se aproveitam para saquear e ainda capturam os sobreviventes em sua fuga. Nessa atmosfera meio Britânia antiga, começamos em Ferelden, na fronteira com as Frostback Mountains.

Esse módulo tinha um desafio para mim – os gigantes. Em Dragon Age, gigantes são burraldos e sem sociedade, mesmo os do gelo. Mas lembrei que temos aí os avvar, um povo bárbaro de grande estatura inspirado nos vikings (que eram descritos como gigantes e de onde veio a cultura dos frost giants e outros tipos em D&D), que vive nas inóspitas Frostback e vive atacando o povo das planícies, transferi todo o que era dos gigantes pra eles. Meu parça Igor Moreno ficou meio reticente, mas como sabemos, não vou usar a maioria das “D&Dices” do produto, então até agora funcionou muito bem.

No que jogamos até agora os avvar estão usando gigantes do gelo e comuns em seus ataques (não posso dizer como conseguiram isso sem dar spoiler aos jogadores), e foi assim que destruíram a vila do início. Eles lidaram com os goblins, descobriram o que aconteceu e salvaram os aldeões presos nas Cavernas Gotejantes (Dripping Caves). A senhora feudal da vila então lhes pediu para buscar seu marido, incauto do ataque massivo – bem como toda Ferelden -, e a aventura vai continuar daí. Por motivos óbvios, sumi com a torre voadora com chapeuzinho de mago e devo eliminar tudo que achar tosco. Devem aparecer muitos desafios à frente, mas acho que vai dar certo.

Esse foi um pouco das minhas elucubrações e de como mexo em tudo de pronto que uso. Parece trabalho desnecessário, mas é melhor que criar tudo do zero e ainda fica do nosso gosto. E vocês, mexem muito no material que usam? Rolaram essas campanhas prontas? Como foi?

8 comentários em “Usei duas campanhas prontas de D&D 5E e olha no que deu

  1. Recentemente comprei o SKT e achei o livro sensacional! Aliás, essa ideia de ir explorando o jogo através de storylines e poucos livros foi um dos maiores acertos dessa edição e que me fez voltar a jogar DnD novamente. Estou tão empolgado com esses livros que comecei a catar as aventuras clássicas de AD&D (que nunca tive muito contato por ser novo na época), pois notei que na minha formação como jogador faltou muito desse tipo de leitura.

    Curtir

  2. Fala ae Dan, eu já acompanho os seus devaneios RPGisticos a muito tempo. E vejo que até hoje você tem a vontade de jogar um sistema que seja mais realista e talz. Eu jogo com meu grupo um sistema próprio desde 2010, acabaram me convencendo a querer publicar ele. Ele se chama Jornada RPG, eu estava indo a toda com ele mas tive problemas com ilustrador e talz.
    Recentemente eu voltei com o projeto e estou na fase de fazer o “Guia introdutório/Fastplay”. Em eventos que mostrei ele o pessoal adorou porque o realismo traz uma abordagem muito mais dramática, como você já bem sabe. Trabalhei muito para ele ficar simples, porque a maioria dos sistemas realistas são bem complicados. Bom quando o Fastplay ficar pronto gostaria de dar uma olhada?
    Eu confio muito no seu gosto porque acompanho a muito tempo o seu blog e vejo as necessidades realistas que você tanto fala.

    Curtir

  3. Valeu por compartilhar com a gente, Dan! Eu tb costumo adaptar campanhas para cenário s e sistemas diferentes. A mais recente coloca os personagens na Guerra da Lança, em Dragonlance, com as regras de Old Dragon (particularmente, eu gostei muito).
    Estou doido pra jogar em Thedas – já tenho todo o material que foi lançado no Brasil – mas ainda acho que preciso de mais material sobre o Lore do cenário. Alguma dica de fonte?
    Forte abraço, e continue mantendo essa “Birosca” funcionando!

    Curtir

    1. Copiando o que comentei lá no grupo Dragon Age RPG Brasil do Facebook, pra ajudar quem vier aqui :P

      Sobre Lore de DA, a Jambô vai lançar os romances esse ano aqui no Brasil, e eles são uma fonte muito poderosa de lore. Procura os quadrinhos que também são muito bons, e sempre tem o Dragon Age Wiki, que acho que já tem versão em português (mas vale olhar a gringa nem que seja com o Google Translator do lado).

      Qualquer dúvida todo mundo pode me perguntar, e se quiserem que eu escreva sobre algo do cenário no blog é só falar :D

      Curtir

Dê um pitaco, não custa nada