Multiclasse e outras regras da casa para Old Dragon

Faz tempo que quero atualizar direito o blog, e estava com o mesmo problema que meu sócio Fabiano Neme, olhando aqui e vendo o #DnDGateBR como primeiro artigo. Reportes geralmente são demorados de escrever (pra mim), então quando surgiu uma discussão no grupo do Old Dragon no Facebook, aproveitei que escrevi um textão por lá pra dar uma agitada por aqui.

Nosso querido Old Dragon é um sistema simples por uma razão, dar combustível para os jogadores e mestres criarem o que quiserem em cima. Tem toneladas de material na internet, e todo mundo tem suas regras da casa e propostas – eu incluso. Este ano o suplemento Companion vai vir com uma porção de regras opcionais com respaldo oficial, mas enquanto ele não chega, vou começar a colocar minhas regras caseiras aqui na mesa do bar, começando pelo combate com duas armas, posturas e multiclasse.

Pra começar, eu não mestro mais sem as regras do Especial de Natal. Se ainda não tem, corre e pega ele aqui. Ah, e se quiser deixar o combate ainda mais mortal, cata essas regras inspiradas no Dark Souls que o Neme fez; eu certamente usarei as de pontos de ferimentos!

Combater com Duas Armas

Na T7-3 da página 63 do livro básico já temos a regra padrão de lutar com duas armas, que é o ganho de um ataque extra por turno ao custo de -2 no seu ataque/arma principal (que deve ser média) e -4 no seu ataque/arma secundário (que deve ser com uma arma pequena). Aqui eu apenas incremento a regra.

Considero um ataque desarmado uma arma pequena que causa 1d2 pontos de dano + modificador de dano da Força, de modo que um personagem com apenas uma arma na mão poderia dar um soco como ataque adicional, respeitando as penalidades. Um personagem com as duas mãos ocupadas ainda poderia dar um pontapé como ataque adicional. Lembrando que uso a regra de Iniciativa do Especial de Natal (1d20 + Destreza, desconsiderando velocidades).

Além disso, eu aplico o Ajuste de Proteção da Destreza como um “modificador” das penalidades, como no AD&D. Se você tem Destreza 8, por exemplo, suas penalidades serão -3 e -5. Se possui Destreza 15, atacaria com 0 e -2. Com Destreza 18, sem penalidades.

Ainda dou outra possibilidade: personagens com Força 16 ou maior podem usar duas armas médias ao invés de uma média e uma pequena. Assim, podemos ver aqueles homem de armas legais com duas espadas longas.

Mais adições: quando você usa uma arma pequena em uma mão e nada na outra, pode desferir um ataque extra (armas pequenas são muito rápidas). Usando duas armas pequenas você ainda está restrito a um ataque extra, mas as penalidades caem para -2 e -2. Um bordão permite um ataque extra se usado com duas mãos. Você pode fazer um ataque extra com um escudo, com -2 de penalidade, perdendo o bônus de +2 na CA durante o resto do turno e causando 1d8 de dano caso acerte.

Posturas em Combate

O Especial de Natal traz excelentes regras para posturas de Homens de Armas em combate, mas eu já usava as minhas próprias e estou reproduzindo aqui como alternativas ou opções extras. O Homem de Armas deve assumir a postura no início do turno e ficar com ela até o próximo.

Ofensiva: -2 na CA e +2 em jogadas de ataque.
Cautelosa: -2 em jogadas de ataque e +2 na CA.
Imprudente: -2 na CA ou jogadas de ataque CA e +4 nas rolagens de danos.
Defensiva: não faz nada no turno além de se mover, +10 na CA.

Você pode realizar trocas com valores maiores (exceto na Defensiva), sempre usando a progressão mostrada (por exemplo, -4 nas jogadas de ataque por +8 no dano, ou -6 em ataque e +6 na CA).

Multiclasse

Uma das maiores dúvidas dos jogadores gira a respeito da (até então) inexistente mecânica para você pertencer a mais que uma classe do Old Dragon. O Companion trará uma – muito boa, por sinal -, de modo que vou abordar aqui o que já usei e os métodos que penso darem ou não certo.

Tem a abordagem do D&D 3E, onde o personagem passa de nível e escolhe uma nova classe, e sempre vai decidindo que classe avançar (ou pode pegar mais classes). No Old Dragon esse método dá alguns problemas. O primeiro é: os valores de Jogadas de Proteção são fixos (e não bônus). Ladrões e Clérigos usam a mesma progressão (começa em 15), o que deixa essa combinação ok, mas Homens de Armas começam pior (16) e Magos melhor (14), o que zoa tudo. O mais matematicamente certo a fazer, até pra evitar combos (porque por exemplo, tirar a média deixaria qualquer multiclasse com Mago na mamata), é deixar a progressão de multiclasse 15 a 9 por padrão.

O segundo é a diferença das tabelas de pontos de experiência. O método 3E considera que você usa uma só tabela pra todas as classes, mas aqui o equilíbrio é diferente. Então, teríamos que considerar uma tabela para cada classe do personagem, e o jogador teria que dividir o XP ganho sempre para decidir com quem vai avançar. Por exemplo, um Ladrão de 3º nível que consiga 5.000 pontos de experiência pode dedidir “pegar” um nível de Homem de Armas, se tornando um Ladrão 3/Homem de Armas 1. Ele precisaria de MAIS 5.000 XP para tornar-se um Ladrão 4/Homem de Armas 1 ou mais 2.000 XP para se tornar um Ladrão 3/Homem de Armas 2. Ou seja, a tabela dele seria, a partir do momento que ele se tornou multiclasse, 5.000/0.

Se você pensar direitinho, o avanço vai ficar difícil para o jogador de Old Dragon, de modo que eu deixaria o personagem somar todas as habilidades, incluindo BA e Especialização. Imagine a dor de ser um Ladrão 10 (240.000 XP)/Homem de Armas 10 (304.000 XP)!

Lá no grupo perguntou-se sobre a possibilidade te se ter uma só tabela tirando a média das duas. Bom, nesse mesmo exemplo ficaria 3.500 XP (5.000 + 2.000) pra ele passar de nível pra Lad 4 / HdA 1 ou Lad 3 / HdA 2. Só que nos níveis subsequentes a coisa piora. Por exemplo, se ele for Lad 4 / HdA 1, pra se tornar Lad 5 / HdA 1 ou Lad 4/ HdA 2, precisaria de +3.500 XP (5k pra completar 10.000 + 2.000 pra completar 10.000). Só que pra se tornar um personagem de 6º nível puro é MUITO mais XP (20.000 / 32.000 nessas duas classes), o que desequilibra tudo e torna personagens multiclasse bem combados, considerando que você vai somar dados de vida e BA. Ou seja, melhor não.

Portanto, eu recomendo bem mais a abordagem AD&D. Nela, o personagem evolui em duas ou mais classes simultaneamente. Os pontos de experiência são divididos igualmente entre cada classe. O personagem pode usar habilidades de ambas as classes. Ele usa a melhor JP e BA, tira uma média entre os dados de vida para os pontos de vida (arredonde pra baixo). Quando os avanços começarem a acontecer de forma diferente (afinal, os pontos necessários pra passar de nível são diferentes pra cada classe), você pega o dado de vida e divide pelo número de classes (arredonde pra baixo). Por exemplo, um Homem de Armas/Mago ganha medade de 1d4 se passar de nível como Mago e 1d10 ao fazê-lo como Homem de Armas, e um Homem de Armas/Mago/Ladrão recebe 1/3 por vez. Lembrando que o personagem tem as habilidades das classes considerando seu nível atual em cada uma. Um Clérigo/Mago tem duas listas e progressões de magia distintas, por exemplo.

Exemplo dos PVs: um Homem de Armas 1/Mago 1/Ladrão 1 joga 1d10 (HdA), 1d6 (L) e 1d4 (M) e tira 6, 5 e 2. A soma (13) é dividida por 3 e arredondada para baixo, dando 4 pontos de vida. Algum tempo depois ele atinge o 2º nível como Ladrão, antes de atingir com as outras classes. Ele joga 1d6 para os pontos de vida adicionais e tira 4, que dividido por 3 dá 1 (arredondando para baixo). Ele ganha 1 ponto de vida extra. Quando chegar ao 2º nível de HdA joga 1d10 e Mago 1d4.

Exemplo do XP, digamos que o Ladrão 3/Homem de Armas 1 passa a anotar seu XP como 5.000/0. Se ele ganhar 450 XP em uma sessão, deve colocar 225 em cada classe, ficando com 5.225/255. Quando eu mestrava AD&D, deixava o jogador distribuir como queria os pontos entre as classes. Se naquela sessão o personagem atuou mais como Homem de Armas, por exemplo, ele poderia colocar 400 na tabela de Homem de Armas e 50 na de Ladrão (ficando com 5050/400) ou qualquer outra combinação.

No AD&D, humanos não podiam ser multiclasse, e sim dupla classe (tipo a multiclasse da 3E mas tu não volta à antiga classe ao entrar em outra). Como isso tem muito a ver com limitações de classe/raça/nível que o Old Dragon não usa, recomendo deixar essa regra de classe e todo mundo poder ser multiclasse.

Edit: se o jogador quiser se tornar multiclasse durante o jogo ao invés de começar assim, ele pode começar a empregar sua XP em uma “reserva” que representa seu treinamento e esforços para engrenar em uma nova classe, igual a METADE do XP necessário pra atingir o segundo nível dela. Quando chegar nesse montante, ele se torna um personagem multiclasse.

Por exemplo, um Ladrão 3 pode começar a treinar bastante para se tornar um Ladrão 3/Homem de Armas 1, empregando parte ou todo seu XP nessa reserva. Quando conseguir 1.000 XP (metade dos 2.000 necessários pra chegar ao 2º nível de Homem de Armas), ele se torna um Ld3/HdA1, ficando efetivamente com (digamos) 2.500/1000 XP e começando sua progressão dupla.

15 comentários em “Multiclasse e outras regras da casa para Old Dragon

  1. Um dia faço alguma postagem sobre minhas regras da casa também :D

    Eu uso o combate com duas armas da mesma forma que você, só que com um detalhe a mais, se o personagem optar por atacar com apenas uma arma, mesmo portando duas, ele recebe um bônus de +1 na CA contra o primeiro ataque que receber naquele turno.

    Mas duas bem simples que sempre uso: sobrecarga também penaliza a CA e o personagem usa 1,5x seu ajuste de Força quando empunha uma arma com as duas mãos.

    Quando você deu o exemplo de PV no multiclasse com Homem de Armas 1/Mago 1/Ladrão 1 já veio o Geralt na minha cabeça e imaginei algo (um tanto específico, mas interessante acredito): especializações próprias para multiclasse. Como o trapaceiro arcano para um Ladrão/Mago.

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      1. Eu não gosto dessa solução da arma com duas mãos porque eu acho que o salto do d12 pro d20 é totalmente desproporcional comparando com os demais.

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    1. Esqueci de colocar uma outra opção que pensei:

      Se o jogador quiser se tornar multiclasse durante o jogo ao invés de começar assim, ele pode começar a empregar sua XP em uma “reserva” que representa seu treinamento e esforços para engrenar em uma nova classe, igual a METADE do XP necessário pra atingir o segundo nível dela. Quando chegar nesse montante, ele se torna um personagem multiclasse.

      Por exemplo, um Ladrão 3 pode começar a treinar bastante para se tornar um Ladrão 3/Homem de Armas 1, empregando parte ou todo seu XP nessa reserva. Quando conseguir 1.000 XP (metade dos 2.000 necessários pra chegar ao 2º nível de Homem de Armas), ele se torna um Ld3/HdA1, ficando efetivamente com (digamos) 2.500/1000 XP e começando sua progressão dupla.

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  2. A regra do imprudente está certa? Porquê só ela aumenta o dano? A diminuição da CA em troca de dano acho ruim.

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  3. Muito boas, apesar de não gostar do esquema multi classe para #OD. Acho que novas especializações, para que o jogador consiga emular o que ele deseja. Tipo, um guerreiro que use magia, poderia ser uma especializacao Lamina Arcana, mas o treinamento necessário a esse poder, seria representado pelos níveis ate a especialização.

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  4. Muito bom rever movimento por aqui!
    Queria ver algum texto sobre o (famigerado) uso de perícias, e alternativas para seu uso.

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  5. Boa Dan! Sempre legal seus posts!

    Curti a regra de Combater com 2 armas, mas pra mim poderia não ter penalidade alguma como em D&D5, pois escudos aumentam a CA contra TODOS os ataques, armas de duas mãos causam danos muito altos e a segunda arma daria apenas 1 ataque extra. Como penalidade seria a exclusao do bonus de força nos danos do ataque extra, por conta da velocidade que reduziria a potencia do golpe.

    As posturas de combate tão bem legais, mas faço apenas uma ressalva quanto a bonus de CA. Os bonus ganhos na CA nunca deveriam ser iguais à penalidade nos ataques, pois geralmente vc so tem 1 ou 2 ataques por rodada, mas poderia sofrer infinitos ataques por rodada. Então a menos que o bonus de CA seja somente contra os ataques de um inimigo ou em apenas um numero reduzido de golpes por rodada, seria melhor não deixar os valores iguais.

    Sobre multiclasse, lembro que no AD&D tu tinha 2 caminhos, o personagem de classe dupla e o multiclasse. Não lembro bem a diferença, mas existia sim, e acho q era um lance bem doido.

    Em OD eu prefiro usar os multiclasses como especializações, então um guerreiro mago seria um homem de armas que no nivel 5 aprende a usar magias como mago nivel 1, no nivel 8 ele atua como mago nivel 3 e no nivel 16 ele atua como mago de nivel 5, podendo inclusive lançar magias com armadura e usar itens magicos para magos.

    é isso…. que venham mais posts!

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  6. Gostei da regra das regras para ataques de duas mãos e multiclasse (apesar de concordar que é “mais old dragon” fazer especializações. No tocante a combate, prefiro usar o sistema vantagem/desvantagem ao invés de bônus.

    Continue postando!

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  7. As minhas regras da casa pro Old Dragon são:
    d24: uma vez por sessão, cada um dos jogadores pode substituir uma rolagem de d20 pelo d24.
    d30: uma vez por sessão, um dos jogadores pode substituir qualquer rolagem de dado pelo d30. Essa rolagem só não se aplica em situações entre sessões, como por exemplo para rolar o HP de um personagem que subiu de nível. De resto, pode. Sim, substituir 1d4 de um míssel mágico por 1d30 pode sim.
    Quase crítico: um ataque que acertou com um 17-18-19 no d20 rola todo o dano 2x e escolhe os melhores resultados.

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