Campanha Canção Escarlate – Sessão 22 (final)

Salve! Esta é a última sessão da nossa campanha de fantasia, que começou como um mero teste para um sistema que não vingou (bem, não a ideia inicial), mas que continuou como uma das mais divertidas campanhas que já jogamos.

Por um ano narramos a história de alguns improváveis companheiros que empreenderam uma jornada por um grande, próspero e caótico reino para enfrentar seus próprios demônios. Ao longo do tempo mudei as regras várias vezes, desisti de mestrar, passei a mestrar em uma versão menos alterada do sistema que eu mais gosto, mas mantivemos as sessões divertidas e emocionantes.

Os personagens são a feiticeira Delphyne Brannon (Elisa), a arqueira Eeve (Bianca), o espadachim Javier (Megaron), o guerreiro Karsus (Rafael), o guerreiro vidente Willer (NPC), o músico Hamelin (NPC) e o guerreiro desmemoriado Adric (NPC). Como eu já disse, Diego acabou não vindo mais jogar por apertos comuns da vida e Willer ficou como NPC.

Não teremos um “anteriormente” desta vez, simplesmente porque ontem postei uma retrospectiva do cenário, personagens e enredo bem sucinta e bacana, vale a pena dar uma lidinha antes de continuar se você estiver esquecido de algo.

Cena 01: A Volta para Casa

O dia amanheceu promissor em Mehnat, com os personagens tomando um tranquilo desjejum na requintada estalagem Descanso do Rei. Isto até Eeve ter um terrível enjoo e Karsus mandar alguém buscar um balde, deixando Delphyne horrorizada. Os dois tiveram uma discussão terrível que terminou com a feiticeira indo para o quarto, furiosa, com Adric atrás para tentar acalmá-la (Eeve foi pedir desculpas pelo noivo depois).

Esqueci de mencionar nos reportes anteriores, mas algumas noites atrás, Del conversou com Karsus e pediu para ser mais respeitada. Eles nunca se entenderam muito bem desde que romperam o curto relacionamento; tinha tudo ficado mais ou menos normal entre eles, mas esta última sessão acabou transformando os dois em quase inimigos, como você verá a seguir. Apesar de Rafael e Elisa se darem bem na vida real (ainda bem, já que são meu irmão e minha esposa), os personagens deles costumam viver em pé de guerra :P.

Depois desse entrevero, todos se despediram de Syrian, que presenteou Del com um pergaminho contendo um feitiço de luz e outro um de fogo sagrado (conseguido com um sacerdote de Thyathis, deus fênix do fogo, esperança e renovação). Eles partiram a cavalo pelos tijolos dourados da Estrada do Rei, e eu narrei rapidamente a viagem com eles pernoitando na aldeia de Gaivotas e na estalagem Descanso do Cavaleiro (descrições curtas para manter a ambientação).

No terceiro dia, eles finalmente chegaram ao feudo Brannon, com a vila de Castelverde e seu pequeno porto que recebia halflings escapando dos corsários portianos (expliquei esse problema político na sessão anterior), com o castelo da família de Delphyne em cima de um morro. Não tiveram dificuldades para entrar porque logo o castelão Wirt reconheceu a segunda filha do falecido Senhor Nolan Brannon. O homem mandou servos acomodarem o grupo e levou Del para um salão menor, onde ela receberia a mãe.

A vila de Castelverde e o castelo Brannon

Tentei descrever o castelo bem no estilo tollonês (inspirado na Escócia), mas com os luxos samburdianos – ou seja, pedras escuras e ângulos retos, mas janelas grandes, bem iluminado e almofadas e cortinas chiques por todo lugar. Os Brannon não eram ricos para o padrão samburdiano, mas ainda assim eram mais ricos do que muitos senhores tolloneses.

Delphyne recebeu a mãe com receio, porque seu irmão mais velho Damien dissera que ela havia morrido. Lady Karyn, muito emocionada (confesso que essas cenas de reencontro com choradeira eu mais narro que interpreto, porque não sei fazer sem ficar mexicanizado), tentou fazer a filha perdoar o irmão e reatar os laços com ela, mas a feiticeira soltou na bucha a notícia da morte de Moira, a caçula. Sua mãe então isolou-se perto da janela e se conteve o bastante para dizer que o grupo jantaria com a família para ser apresentado; Del a deixou sozinha com seus fantasmas.

Enquanto isso, os outros comiam e bebiam em uma sala comunal, com Javier lembrando de sua época no castelo de Dom Jimeno de Montelvo, em Petrynia (onde ele crescera). A pedido de Eeve, começou a falar sobre o reino, e a arqueira se juntou ao espadachim para convencer Karsus a ir para lá quando tudo aquilo acabasse.

Cena 02: Frivolidades

O jantar foi bem desconfortável, com Delphyne afundando na cadeira (além da fobia social, a feiticeira se sentia muito mal perto da família que tinha medo e a odiava por seu prenúncio de maldição) e os companheiros conhecendo os irmãos da moça (o mais velho Damien, agora senhor das terras, e o terceiro Eldren), suas esposas e filhos.

O Senhor Damien disse que não pode ajudá-los a vingar Moira, porque estava começando uma guerra, e se ele movesse tropas podia dar a impressão errada (o antigo duque Malgren Vanerak tinha voltado da morte e, com a morte do Duque de Vanerak atual, ele tomara seu lugar e declarara guerra à Coroa, porque tinha pretensão ao trono antes de desaparecer. Caso você não lembre, é aquele cara que os PJs salvaram lá na floresta dos elfos, na sessão 17; como esse mesmo sujeito está dando trabalho ao mesmo grupo em outra campanha, eles nem ficaram surpresos, mas os personagens com certeza ficaram putos!).

Mesmo assim, deixou claro para o grupo que se eles o fizessem, teriam sua gratidão e ajuda para o que estivesse ao seu alcance. Karsus apenas pediu que protegesse Eeve enquanto eles iam (grávida, né? Não dá pra ir lutar contra um mago do mal).

Na saída do jantar aconteceu uma cena extremamente tensa: Damien comunicou a Delphyne que seu tio e mestre, o mago Irwin, fora levado pela Alvorada, a ordem portiana de caçadores de magos. O Grão-Auror Ragnyr viera buscá-lo pessoalmente, acusando-o de “chacinar o vilarejo de Braden, em Portian, com sua magia negra”, após vinte anos de caça. Del notou o escárnio na voz do irmão, e os dois tiveram uma discussão tensa, onde ela disse que nunca mais queria vê-lo e ele disse que não tinha irmã. Eu nem planejava essa briga, só tinha usado o NPC para dar a notícia porque ela nem tinha perguntado do tio (acho que foi mais esquecimento da jogadora), mas ficou legal a cena assim.

Antes da partida, Willer ainda disse a Eeve que consultara as runas e que eles não falhariam, e ele ou morreria ou traria Karsus de volta. Na verdade eu nem pensei se ele teria feito um feitiço de adivinhação ou apenas usou a “cabeçologia” pratchettiana, qualquer das duas coisas funciona legal para ambientar esse tipo de personagem.

Cena 03: O Bom, o Mau e o Feio

No dia seguinte, o grupo tomou uma estradinha para o interior, pernoitando em uma pequena instância de fazendeiros. Ao chegar em Campina Rus, avistaram o vilarejo de Campina da Lenha aparentemente tranquilo e a fortaleza do novo senhor das terras, Godwin Trumhall, já com algumas paredes erguidas (da última vez que vieram, eram apenas pavilhões num outeiro). Esconderam-se no mato e se aproximaram, enquanto pensavam em uma abordagem.

Decidiram por fim falar com Trumhall e avisá-lo que Aleban/Cauda Negra ainda estava nas redondezas (pensando agora era um plano bem ingênuo, dado que o mago das sombras já podia ter dominado o nobre novamente, mas na hora nem me liguei). Eles então se revelaram e foram levados por um castelão e alguns guardas até um salão de audiências, onde disse que o senhor não estava em condições de falar com o grupo. Delphyne (e a torcida do Flamengo) logo desconfiou, se concentrou e sentiu a emanação de essência na sala – assim, chamou Aleban pelo nome e desmascarou seu disfarce.

Seguiu-se então a cena mais tensa de toda a campanha. Começou um diálogo nervoso, com Aleban dizendo que sua esposa Naishe tinha sido levada pela Alvorada e a intenção do Círculo Esmeralda (ordem de magos a que ele pertencia, que tinha contratado Hamelin e tudo mais) era simplesmente destruir a organização de caçadores de mago portiana!

Ele havia manipulado Trumhall – e os personagens, indiretamente – para desbaratar os bandidos e ganhar a confiança do povo, estabelecendo uma base e trazendo cada vez mais simpatizantes à causa. Moira fora enviada para ficar de olho nos heróis e tentar levá-los “pelo caminho certo”, e nesse momento a própria apareceu e confirmou tudo.

A intenção do mago na cena era convencer o grupo, especialmente Delphyne, a se juntar a ele e ao Círculo. A Canção Escarlate na verdade não servia para matar magos, e sim para acordar seus poderes adormecidos (na prática, dar uma pimpada nas habilidades mágicas) e fazê-los “ver a verdade”, trazendo-os sutilmente para a causa.

Nesse ponto, Del pediu que Moira se aproximasse, e em meio a lágrimas, convocou as chamas sagradas, que cosumiram a irmã e a destruíram para sempre. :(

A opinião do grupo estava meio dividida, e eu vi nos olhos de Elisa que Delphyne estava meio balançada. Javier não concordava, porque a última coisa que queria era participar de uma guerra. Willer considerava a oferta, mas não via sentido em uma luta tão utópica e provavelmente perdida. Karsus era totalmente contra – como devoto fervoroso de Khalmyr da justiça e um homem procurando redenção, ele não podia concordar com aqueles planos, principalmente por conta da quantidade de mortos no processo.

Aleban deixou claro que a coisa era muito maior que eles, e não seria ele desistindo que ia parar os planos do Círculo. Diante disso, Karsus encarnou o Rorschach e disse que mesmo assim tentaria detê-lo. O mago preparou um feitiço, todos puxaram suas armas, e a batalha começou. Megaron/Javier depois nos disse que o personagem ia falar alguma coisa, mas estava tão absorto com a tensão na cena que não pensou em nada pra dizer!

Cena 04: Sangue e Ossos

Iniciativa rolada.

Karsus começou a pressionar o ataque sobre Aleban (quando um personagem sofre um ataque, pode perder sua próxima ação para Esquivar, rolando de novo a Defesa e cancelando sucessos do ataque; o mago precisava muito disso, ou Karsus o dilaceraria no primeiro turno!), mas um guarda o chamou para a luta com a lança e o mago usou um feitiço para provocar dor no guerreiro.

Willer matava um soldado enquanto Del começou a recitar o cântico de luz com o pergaminho. Javier e Adric lutavam com outros soldados enquanto Karsus tentava dar cabo do seu e Aleban convocava sombras para envolvê-lo como uma armadura. Os jogadores estavam todos muito tensos e afobados, rolando dados como se não houvesse amanhã, mas nada os preparou para o que vinha a seguir.

Nesse momento, Hamelin simplesmente começou a tocar a Canção Escarlate, fazendo tanto Delphyne quanto Aleban sentir seus efeitos devastadores. Do nada, Willer demonstrou suas raízes bárbaras e simplesmente enfiou o machado no peito do músico, derrubando-o no chão com um ferimento mortal!

Enquanto ele vertia seu sangue no chão, Delphyne em um ataque de raiva usou o feitiço de dor em Willer. Javier afastou o lanceiro com quem lutava e, perplexo com aquela loucura (todos os jogadores estavam; foi lindo!), e saltou por um dos pilares em construção e o derrubou em cima de Aleban, soterrando o mago (sempre Javier/Megaron, o cara das proezas. :D). Karsus saltou pelos entulhos, mas logo o mago das sombras ressurgiu transformado em um hediondo demônio farpado de pele escura! Porque nenhum final é épico o suficiente sem um boss grandão! :P

Os soldados fugiram aterrorizados enquanto Karsus e Adric atacavam o monstro. Willer ainda estava prestes a atacar Delphyne, que tentava curar Hamelin com magia. Somente Javier e seu carisma poderia dar um jeito nisso: ele se postou na frente do tollonês e preparou-se para lutar com ele, mas o fez enxergar que o inimigo ali era outro, e eles se juntaram à luta.

O monstro agarrou Karsus e arremessou sobre os outros; eles precisavam trabalhar como equipe para vencer. Eu tenho testado umas regras para criaturas “solo” poderosas; elas agem várias vezes no turno, e se movem mais, e isso sempre dá um trabalhão para os PJs.

Mas eles se coordenaram direitinho, usaram suas manobras de combate e conseguiram cercar o bicho, dando-lhe suas pancadas mais fortes (haja Força de Vontade para ganhar +3 e pontos de trama para rolar novamente testes) e finalmente derrubando-a no chão.

Moribundo e novamente transformado em tamanho normal, Aleban pediu a Karsus que salvasse sua esposa, mas o guerreiro negou e lhe cortou a cabeça, concretizando enfim a vingança que durou uma campanha inteira para ser realizada.

Mas não havia acabado ainda: todos ficaram estarrecidos ao ver uma espada irromper de forma sangrenta pelo peito de Willer! O bárbaro então simplesmente caiu morto (tirei um monte de sucessos), e um ofegante Hamelin, que se esgueirara devagar enquanto o grupo lutava, surgiu atrás dele. Adric tentou desarmá-lo, mas o músico de repente se revelou um exímio espadachim, quase desarmando o portiano na tentativa.

Del e Javier tentaram acalmá-lo, e ele acabou contando que era também um membro do braço armado do Círculo Esmeralda, enviado para trazer magos à causa da ordem. Karsus começou a se irritar e discursar contra a organização, mas o músico disse que a guerra viria de qualquer forma.

Para fechar com chave de ouro, Karsus acusou Delphyne de compactuar com os ideais do Círculo e a feiticeira finalmente declarou que nunca mais queria olhar para ele.

O dia terminou com Karsus e Javier explicando a situação aos homens mais proeminentes da aldeia. Com uma despedida amarga, os dois tomaram o caminho de volta para Brannon, enquanto Delphyne, Adric e Hamelin prosseguiam para Portian.

Dias depois, em Castelverde, Eeve recebeu chorosa a notícia da morte do irmão, que foi posto em um barco no rio Meran e queimado com flechas de fogo disparadas por Eeve (bem estilo escocês; vocês provavelmente viram esta cena em Game of Thrones, em Riverrun), indo descansar no fundo das águas. Em seguida, os três tomaram uma embarcação rumo a Petrynia.

E assim acabou Canção Escarlate. Como dá para ver, ficaram várias pontas soltas, uma guerra a travar e parentes a salvar (o tio Irwin de Del e o pai Inigo de Javier, que a Rainha Selana dos elfos havia dito que estava na ilha de Quelina, no oeste). Decidimos então que na verdade jogamos um arco de histórias, o primeiro de futuros que comporiam uma coisa maior.

Ficamos de dar um tempo, e quando quisermos voltar e descobrir o que aconteceu com aqueles personagens, continuamos e provavelmente chamaremos de outro nome (mais ou menos como uma série de livros; cada livro tem um nome).

Duvido muito que Karsus e Delphyne se juntem novamente, exceto em lados opostos de uma batalha, mas sempre posso mestrar dois focos ou, o que é mais provável, rolar cada novo arco com os jogadores que ficaram de fora fazendo novos personagens. Então é isso: Canção Escarlate acabou, mas ainda veremos novamente Delphyne, Karsus, Eeve e Javier no futuro!

Obrigado a todos que acompanharam (sei que poucos comentam, mas muitos leem) e principalmente aos meus jogadores Elisa, Rafael, Bia e Megaron (e menção honrosa aos que não puderam ou quiseram continuar: Diego, e lá no começo Allana e Nino); juntos criamos uma das melhores crônicas que já mestrei, sem que eu realmente precisasse planejar cada passo e colocá-los num railroad – eles se meteram nos problemas dos outros, mas tudo para resolver as demandas que eles próprios geraram (vingar Moira).

Disso são feitas as boas histórias.

5 comentários em “Campanha Canção Escarlate – Sessão 22 (final)

  1. eita, que quando eu vi o titulo do post no blog até revirei o estrombo. Maaassa demais cara, tensão a mil, grupo comflituoso, boss grandão, feitos magnificos e morte de entes queridos, belo fim de historia xD.

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